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sábado, 21 de maio de 2011

Terapia Ocupacional e a utilização da terapia assistida por animais (TAA) com pessoas que têm problemas físicos ou mentais e também crianças e adolescentes institucionalizados

   A convivência de animais domésticos com o homem contribui positivamente para o bem-estar e para a auto-estima do ser humano. A relação homem-animal traz inúmeros benefícios e uma visível melhora na qualidade de vida, proporcionando a diminuição da pressão sanguínea, dos níveis de colesterol e do estresse, além de reduzir o risco de problemas cardiovasculares.     Estudos demonstram que o contato com animais aumenta a produção de endorfina no organismo, ajudando a minimizar os efeitos da depressão; diminui a percepção da dor e a ansiedade; e aumenta as células de defesa.     Diante dos benefícios promovidos pelo convívio com animais domésticos, surgiu há alguns séculos a Terapia Assistida por Animais (TAA). Este tipo de terapia se originou no Retiro York em 1792, uma instituição mental localizada na Inglaterra, os pacientes dessa instituição conseguiam interagir com os animais como reforço positivo ao tratamento que recebiam. 
    Em 1942, Terapeutas Ocupacionais perceberam os benefícios da TAA em pacientes com desordens mentais e físicas e a partir dos anos 80, relevantes pesquisas científicas emergem provando o benefício à saúde humana, a partir da interação com animais, espalhando-se rapidamente no Reino Unido, Estados Unidos e na Europa Continental, no Brasil a prática se iniciou com a Drª Nise da Silveira, utilizando cães e gatos nos processos de terapêutica ocupacional.
    A lista de doenças que podem ter os efeitos amenizados pela TAA é extensa, vai de depressão, estresse e deficiência visual, auditiva e mental, síndrome de Down, mal de Parkinson, passando por vítimas de traumatismo crânio-encefálico, paralisia cerebral, mal de Alzheimer, autistas, vítimas de abuso sexual, problemas psicológicos, de relacionamento e interação social.
   Turner descreve que: “A companhia de animais beneficia não apenas deficientes ou portadores de doenças graves, mas também o cidadão comum, seja qual for sua renda familiar (...). A Terapia Assistida por Animais representa uma tremenda economia para a saúde pública e obtém sucesso até nos casos em que métodos tradicionais de tratamento falharam”.
     São utilizados todos os tipos de animais que possam entrar em contato com os humanos sem oferecer-lhes perigo como: gato, coelho, tartaruga, chinchila, hamster, peixe, furão, pássaro, cão, cavalo e até mesmo animais exóticos como a iguana. O principal animal utilizado é o cão, pois apresenta uma natural afeição pelas pessoas, é facilmente adestrado e capaz de criar respostas positivas ao toque, possuindo grande aceitação por parte das pessoas, o processo da terapia com o uso de animais obtém resultados mais eficientes com os animais que podem ser tocados.
      Os cães utilizados na TAA devem ser especialmente adestrados, ter idade superior a um ano, apresentar bom comportamento, ser sociáveis a estranhos e habituados ao convívio com outros animais. Na prática há preferência pelas raças Yorkshire, Poodle, Labrador, Boxer e Golden Retriever.
       A introdução de animais, dirigida de forma terapêutica, no convívio com crianças e jovens institucionalizados e/ou em situação de abandono pode ajudar a compensar déficits afetivos e estruturais, tanto da personalidade como de habilidades e responsabilidades. Quando se estabelece a relação criança-animal, a criança é capaz de reconhecer o animal como um amigo, de forma a cultivar sentimentos como confiança, cuidado, estima, dentre outros.                    Pesquisadores já demonstraram que a posse de um animal de estimação durante a infância é uma influência extremamente importante para a construção de uma conduta adulta favorável e para alcançar um ótimo desenvolvimento social. A utilização de animais com crianças e adolescentes promove experiências emocionalmente satisfatórias que aumentam sua motivação por aprender, experimentar e explorar, modificando gradualmente seu comportamento.
       A Terapia Assistida por Animais implementada como técnica por profissionais de Terapia Ocupacional visa analisar a situação específica de cada criança e adolescente, objetivando melhorar as atividades de vida diária utilizando o cachorro como meio para se chegar aos hábitos dos humanos, adquirindo hábitos e desenvolvendo o papel de cuidador (higiene e alimentação do cachorro), auxiliando o jovem, de maneira progressiva, a adquirir o sentido de responsabilidade sobre o ser vivo, desenvolvendo a consciência corporal, trabalhando as partes do corpo primeiramente no animal e posteriormente na criança e promovendo interação social por meio do trabalho em grupo. Tudo isso levará à aquisição ou recuperação de habilidades necessárias que facilitam o contato social, estimulando ou recuperando as condutas de auto-cuidado, higiene, auto-estima e incrementando sua capacidade de comunicação social.
       Os Terapeutas Ocupacionais intervêm por meio das ocupações em pessoas afetadas por processos desadaptativos, de diversos tipos, que ameaçam sua saúde, como: enfermidades, traumas ou condições sociais que afetaram sua saúde biológica ou psicológica. Portanto a Terapia Ocupacional é um meio de reorganizar o comportamento ocupacional das pessoas para alcançar os máximos níveis possíveis de saúde e bem estar.
         Sabe-se que, como processo, o desenvolvimento infantil está em constante evolução em virtude dos fatores genéticos, mas devido, sobretudo, às mudanças nas relações do sujeito com o ambiente externo que podem facilitar ou até prejudicar esse processo. Os estudos sobre os aspectos do desenvolvimento infantil, como o sensório-motor, cognitivo, afetivo e social, e as correlações entre as etapas de amadurecimento do sistema nervoso central permitem ao terapeuta ocupacional dominar o conhecimento sobre o processo de desenvolvimento e estabelecer os parâmetros que vão nortear suas práticas com crianças e adolescentes.
       Como já afirmado por Lowenfeld, a fruição da existência e a capacidade de aprendizagem depende do significado e da qualidade das experiências sensoriais. Portanto tocar, cheirar, ver, manipular, saborear, escutar, em fim qualquer forma de perceber o meio e reagir a ele, constroem um conjunto de informações que estimulam a curiosidade, criatividade, cognição e fazem a interação com o mundo exterior mais rica e cheia de significado, sendo de fato a base essencial para aprendermos e nos desenvolvermos, transformando o espaço que nos rodeia, nossas relações com os outros seres e também a nós mesmos. A aquisição e experimentação de todos esses estímulos são possíveis de ser alcançadas mediante a interação homem–animal, numa intervenção terapêutica centrada no contexto ocupacional do indivíduo.
      O atendimento terapêutico ocupacional com o uso da TAA permite a construção de um novo cotidiano, superando os limites da institucionalização, por meio das oportunidades que lhe são oferecidas e clarifica a real importância da pessoa enquanto sujeito na sua complexidade, pois no processo de intervenção, estreitam-se laços de confiança, amizade e afetividade. Sentimentos que a maioria das pessoas que passam por algum processo de institucionalização, são carentes. A partir daí, o profissional possui uma referência e por meio desse vínculo pode trabalhar no sentido de aumentar a auto-estima, as relações interpessoais, a capacidade adaptativa e o desenvolvimento de habilidades, facilitando gradativamente que a pessoa alcance maior independência.
      Levando-se em consideração as políticas públicas brasileiras, o uso da TAA enquanto técnica terapêutica ocupacional vem possibilitar uma diminuição de gastos públicos com patologias físicas ou psíquicas agindo preventivamente à sua instalação ou terapêutica sobre problemas já detectados atingindo uma melhora do estado mais rapidamente, de forma não invasiva e com menos custos.
      Com a conquista desses primeiros resultados com a intervenção, o indivíduo inicia um novo processo de significação enquanto sujeito e uma nova forma de comunicação com o mundo. Com isso, terapeuta e indivíduo buscam alternativas de atividades laborativas para geração de renda, como um objetivo maior ao próprio processo de terapia, construindo, num contexto ocupacional, uma completude na subjetividade do sujeito e formação de sua identidade.


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